quinta-feira, 18 de março de 2010

Benedicto (01)

No dia 14 de março de 1903 nascia em Macaé, numa pequenina casa da Rua São João, o menino Benedicto. Filho de D. Maria Lousada, mãe solteira (coisa que pra época era uma afronta). Imagina a luta dessa mulher pra ter seu filho no seio de uma sociedade tão preconceituosa. Pois ela venceu. Teve seu filho e o batizou em homenagem a São Benedicto, detentor de uma Irmandade muito atuante na Igreja São João Batista em macaé, que muito a ajudou e que por sinal ficava na rua onde Benedicto nasceu.


                                                  Aquarela de Hindemburgo Olive

As dificuldades, que já eram imensas pra D. Maria Lousada e o menino Benedicto foram se agravando a ponto dela ter que se mudar pra Capital Federal em busca de mais oportunidades de trabalho.
O Rio de Janeiro tinha se "civilizado" conforme palavras de um célebre jornalista da época, o macaense Figeuiredo Pimentel. O Prefeito Pereira Passos remodelava a cidade e as noticias que chegavam eram de muitas oportunidades pra trabalhar, ainda mais em casa de família como doméstica, lavadeira... que eram as ambições de D. Maria.
Em Macaé morando na Rua São João o menino Benedicto descobriu a música ouvindo ao longe os ensaios constatantes da Sociedade Musical Nova Aurora.

        Sede da Sociedade Musical Nova Aurora em Macaé - fundada em 1873

A Banda participava de muitos eventos da cidade e Benedicto desde pequenino enchia seus olhos ao ver a banda passar tocando belos Dobrados, Hinos e Polcas. Essa memória fez com que Benedicto muitos anos depois já famoso ao visitar Macaé deixar escrito no livro de atas da Nova Aurora: "A minha Nova Aurora querida, inspiradora direta de minha arte deixo aqui meu coração pro resto da vida".

O fogo da Música já tinha tomado o menino Benedicto quando ele chegou com sua mãe na Capital Federal, Rio de janeiro. Os filhos de Benedicto contam que o pai sempre teve muito vivo na memória os tempos de criança em Macaé, na rua São João, na beira do Rio Macaé, na Imbetiba e mais ainda se lembrava das retretas que ouvira com as Bandas de Macaé na praça, Lyra dos Conspiradores e, especialmente, a Nova Aurora, Banda pela qual nutria especial paixão.

Fotos do Mercado de Peixe e Tílpures puxados a tração animal em Macaé 1906-1910  


Praia de Imbetiba anos 20-30 e arredores do Mercado de Peixes


A chegada ao Rio de Janeiro e principalmente ao Bairro do Estácio também marcou muito Benedicto. A luta de sua mãe, o Morro da Mangueira, os botequins cheio de música, as Bandas das fábricas, as ruas Salvador de Sá, Rua Maia Lacerda, o Morro do São Carlos, São Cristóvão, Cidade Nova...


Roda de Choro - Ilustração de Seth e Grupo de Chorões reunidos numa Festa Junina

menino que andava se arrastando por conta de uma desnutrição nunca se esqueceu do prato de comida tão generoso que aos 8 anos comeu, ainda com as mãos, na casa de uma Família onde sua mãe arrumara emprego. Era o primeiro prato completo com carne,arroz, feijão, salada... Benedicto guardava isso tão vivo na memória que anos mais tarde, já Benedicto Lacerda, ao saber que a senhora da tal família passava por séria dificuldade financeira passou a ajuda-la com uma
espécie de pensão mensal como sinal
de gratidão por tudo que fez por ele e sua mãe em sua chegada ao Rio de Janeiro.
D. Maria, mãe de Benedicto, trabalhava em casa de Família e ainda lavava roupa pras madames da Tijuca e São Cristóvão. Benedicto de calças curtas e começando a ganhar força foi aos poucos descobrindo os arredores do Estácio com seus Chorões respeitados, malandros arraigados e muita música nos Coretos, Fábricas, Corporações Militares, butiquins, na Rua... Conta-se que o pequeno Benedicto improvisara uma flautinha de Flandres e ficava o dia inteiro no encalço da mãe soprando e fazendo muita arte. Brincadeira de criança. Até que descobriu que podia tocar tudo que ouvia por aí na flautinha: Canções, Valsas, Choros, polcas, maxixes...

O menino Benedicto estava tomado pela música e aos poucos descobria que a região do Estácio, onde fora morar, era reduto de muitos bambas em matéria de música popular. Muitos meninos como ele, de calças curtas, estudavam instrumentos musicais com grandes mestres de instrumentos como: Cavaquinho, violão, Flauta, Saxofone, Trompete, Trombone... Enfim, os instrumentos das bandas de música e os da tradição do Choro.

O Choro apareceu no Rio de Janeiro por volta de 1870 como uma forma de tocar o repertório europeu de polkas, valsas, quadrilhas, schottisch, tangos e habaneras que viera para cá com a presença da corte de D. João no Rio de Janeiro a partir de 1808.


Henrique Alves de Mesquita/Joaquim da Silva Callado/Viriato Figueira da Silva    

 Musicos fabulosos como Henrique Alves de Mesquita, Joaquim Callado, Viriato Figueira da Silva, Chiquinha Gonzaga e muitos outros tocadores de Offcleide, Tuba, Clarineta, requinta, etc... foram os artífices da criação do Choro como um gênero. Em 1900 o Choro já estava espalhado por todo Brasil graças as Bandas de música militares que foram pra guerra do Paraguai e vindas de todo território Brasileiro, congregava muitos dos musicos envolvidos com aquele novo jeito de tocar e com o repertório que nascia a partir dali. Ao voltarem da guerra pros seus estados de origem naturalmente cumpriram o papel de fixar e divulgar o Choro e suas nuances.

                                Banda Militar em fins do século XIX
Benedicto, adolescente, passou a tomar lições com o renomado "chorão" Belarmino de Souza e a prestar muita atenção naquelas reuniões em que a música era o prato principal e o Choro o tempero mais servido. Estudando com um verdadeiro mestre, Benedicto descobria aos poucos que seu talento era único e incentivado pelo professor e por todos que o ouviam estudava cada vez mais com muito afinco e grande paixão. Começava a nascer para o mundo da música o flautista Benedicto Lacerda.

2 comentários:

  1. Bem bacana o Blog Rubinho,pus um link lá no meu blog, se desejar olhar: http://solquenasce.blogspot.com/

    Abração

    Matheus

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  2. muito legal o backgrund do seu site mais o case de aluminio no cantinho acabou com a nostalgia da cena.

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